Os índios Suruí de Rondônia lançaram em Cancún o primeiro Fundo de Carbono indígena brasileiro. A iniciativa é o resultado do trabalho das mais de 20 aldeias – que abrigam cerca de 1.300 indígenas – em conjunto com o Funbio na Terra Indígena Sete de Setembro, uma área de 249 mil hectares.
“Em uma primeira aproximação avaliamos o estoque em cerca de 4 milhões de toneladas de CO2 equivalente”, explicou o biólogo Ângelo Santos, coordenador da área de Mudanças Climáticas e Energia Limpa do Funbio e um dos idealizadores do Fundo. Isso significa dizer que a área tem potencial para gerar 4 milhões de títulos de neutralização, ou créditos. “Estamos trabalhando preferencialmente com títulos de neutralização, pois o mercado de carbono no Brasil ainda não está regulamentado”, esclarece Santos.
O Fundo já recebeu duas doações em Cancún, mas sem a contrapartida dos créditos. Quando o projeto for finalizado, a ideia é trabalhar com a venda de títulos de neutralização para empresas que queiram – ou precisem – compensar suas emissões de carbono. Em troca de uma doação ao Fundo, a empresa levará os títulos e não poderá usá-los como créditos, ou seja, não poderá comercializá-los.
“Há dois anos, os Suruí assinaram a moratória da madeira ilegal. Eles estão pensando muito no futuro. Elaboraram o Plano de Vida Suruí, que é uma perspectiva de como eles querem estar daqui a 50 anos. Tudo o que entrar no Fundo vai ser usado para viabilizar esse plano e as ações previstas por ele: ecoturismo, produção sustentável da castanha e iniciativas nas áreas de saúde e educação”, explica Santos.
O padrão utilizado para a elaboração do projeto é o Voluntary Carbon Standard (VCS), reconhecido mundialmente como ferramenta que assegura que os créditos gerados são confiáveis e têm benefícios ambientais reais.
“É um instrumento de captação de recursos e distribuição de benefícios para a comunidade Suruí”, conclui Santos.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo