Em 1964, o biólogo britânico William Hamilton publicou um artigo de referência para responder a esse tipo de pergunta. Às vezes, ele argumentou, ajudar os parentes pode se espalhar mais rápido nos seus genes do que ter seus próprios filhos.
Nos últimos 46 anos, os biólogos têm usado a teoria de Hamilton para entender como sociedade animal evolui. Eles chegaram a aplicar isso na evolução da nossa própria espécie. Mas na última edição da revista Nature, uma equipe de proeminentes biólogos evolucionistas de Harvard tentou acabar com essa teoria.
Os cientistas argumentam que estudos feitos com animais desde a época de Hamilton não apoiam a teoria. Eles dizem ainda que um olhar mais atento sobre a matemática subjacente revela que a teoria de Hamilton é supérflua.
“É exatamente como um epiciclo antigo do sistema solar”, disse Martin Nowak, co-autor da pesquisa, com Edward O. Wilson e Tarnita Corina. “O mundo é muito mais simples sem ele”.
Outros biólogos estão divididos sobre o estudo. Alguns o elogiam por contestar um conceito que tem perdido sua utilidade. Mas outros, o rejeitam como algo fundamentalmente errado.
Hamilton, que morreu em 2000, acreditava que sua teoria seguia de forma lógica o que os biólogos já sabiam sobre a seleção natural.
Algumas pessoas têm mais filhos do que outras, graças à uma versão particular de genes que carregam. Mas Hamilton argumentava que, para julgar o sucesso reprodutivo de um indivíduo, os cientistas tinham de olhar para os genes que partilhavam com seus parentes.
Herdamos metade de nosso material genético de cada um de nossos pais, o que significa que nossos irmãos têm, em média, 50% das mesmas versões de genes.
Nós compartilhamos uma menor percentagem com primos de primeiro grau, primos de segundo grau e assim por diante.
Se ajudarmos o suficiente nossos parentes para que eles possam sobreviver e ter filhos, então eles podem passar mais cópias dos nossos próprios genes. Hamilton qualificou isso como uma nova forma de computar o sucesso reprodutivo, incluindo a aptidão física.
Cada organismo enfrenta uma troca entre colocar esforço para aumentar a sua própria prole ou ajudar seus parentes. Se os benefícios de ajudar um parente superam os custos, argumentou Hamilton, o altruísmo pode evoluir.
Mas os pesquisadores, que questionam a teoria de Hamilton, constataram que a teoria da aptidão inclusiva funciona apenas em condições especiais. Todos os efeitos que os animais tinham um sobre o outro tinham de acontecer na base de um-para-um. No mundo real, as pessoas podem se beneficiar de muitas outras pessoas como um grupo.
A seleção natural padrão, os cientistas argumentam, explica tudo que a teoria aptidão inclusiva buscava explicar, sem a necessidade dessas condições especiais.
Nowak e seus colegas argumentam que a sua análise deve liberar os cientistas a pensar em outras maneiras pelas quais o altruísmo e outros tipos de comportamento social podem evoluir.
Fonte: Último Segundo